Teve lugar na Capitania de Aveiro, um debate inserido nas comemorações do centenário da Revolução de Outubro, mais concretamente acerca do impacto deste marcante acontecimento nas condições de vida dos trabalhadores e do povo da Rússia, em primeiro lugar, mas também um pouco por todo o mundo e particularmente em Portugal. Foram oradores Paulo Raimundo, do Secretariado, Fernanda Mateus, da Comissão Política, e o economista Fernando Marques. Da audiência vieram interessantes comentários e questões oportunas.
O ponto de convergência nas ideias expostas por todos os oradores foi o impacto que o fim da guerra, a distribuição da riqueza, a planificação da economia e a socialização dos meios de produção tiveram num país tão atrasado como era a Rússia no início do século XX e que fariam dele, em menos de meio século, uma das grandes potências mundiais. O avanço civilizacional que a Revolução de Outubro representou – e de certa forma ainda representa – foi salientado em exemplos como a proibição do trabalho a menores de 14 anos (numa época em que nas principais potências industriais o trabalho infantil era generalizado) e que entre os 14 e os 18 os jovens não podiam trabalhar mais de seis horas diárias. A jornada laboral de 8 horas, os intervalos para descanso e refeições e a consagração do direito de voto às mulheres foram outras importantes conquistas revolucionárias.
Estes avanços, concretizados nos primeiros anos da construção do socialismo na União Soviética, não podiam contrastar mais com o atraso a que a política fascista condenou Portugal durante 48 anos, realçou-se no debate. Aliás, pese embora as muitas e impressionantes conquistas alcançadas com a Revolução de Abril, são hoje muitos os constrangimentos ao desenvolvimento económico e social do País, provocados por 40 anos de política de direita e 30 de integração capitalista na União Europeia. Ainda recentemente, o relatório da Organização Internacional do Trabalho aponta Portugal como um dos países em que a parte dos salários no rendimento nacional mais diminuiu entre 2003 e 2014 e um dos que apresenta maior desigualdade de rendimentos.
No debate foi reafirmada a importância da Revolução de Outubro, não como modelo acabado para decalque, mas como prova de algumas importantes premissas no que toca à validade e actualidade da milenar aspiração dos povos em tomar na suas mãos os seus próprios destinos. Esta experiência e os ensinamentos dela retirados, nos seus acertos como nos seus erros, são pedra angular da vida, experiência e prática do PCP e da sua proposta para o povo português: a construção de uma democracia avançada, enquanto parte integrante do caminho para construção de uma sociedade socialista.